Palavra do Pároco
30º Domingo do Tempo Comum – C
23 de outubro de 2022
Pe. Kleber Rodrigues da Silva
Entramos na reta final do Tempo Comum, próximos de completar as trinta e quatro semanas percorremos o caminho catequético, discipular e missionário com o evangelista Lucas, que desde o 12º domingo convidou-nos a subir à Jerusalém com Jesus.
Os domingos anteriores trouxeram de uma forma direta ou indiretamente o tema da Oração e suas consequências na vida daquele que opta por seguir Jesus. Ainda permanecemos na esfera desta temática, avançando na compreensão da Identidade divina (Primeira Leitura), do modo como desenvolvemos a prática oracional (Evangelho) e a consciência de que o Senhor está sempre ao nosso lado mediante o combate da fé (Segunda Leitura).
A construção da identidade divina no Antigo Testamento está associada muitas vezes ao poder, a realeza, a grandiosidade. A primeira leitura, revela-nos a imagem ou a condição do “juiz que não faz discriminação de pessoas”. Encontrar em Deus a justiça, o socorro, livre de qualquer jogo ou troca, expressa a autenticidade daquilo que Ele é. Parece-me oportuno, à luz deste texto, averiguar a nossa consciência e perceber o que construímos de imagem divina.
O juiz que não faz a discriminação, tem também uma opção: o órfão, o estrangeiro e a viúva. Atualizar esta condição de orfandade, de viuvez e de migrante à luz do texto bíblico, deve ajudar-nos a enxergar tantas situações sociais, de abandono, de negligência que passam tantos irmãos e irmãs. O socorro vem através das preces, mas passa essencialmente pelos gestos concretos que resgatam a dignidade humana. Um dos grandes exercícios da oração cristã é levar-nos a perceber o quanto construímos a justiça comunitária e defendemos os preferidos do Senhor. Perguntemo-nos sempre, como a oração tem ajuda-nos a ter olhos e ações para aqueles que estão ao nosso redor.
No evangelho, seguimos o caminho catequético, doutrinal e discipular com Jesus à Jerusalém. Formando a consciência aprendemos na didática do Mestre a enxergar o sentido das parábolas, ou seja, logo no primeiro versículo aponta-nos: “contou esta parábola para alguns que confiavam na própria justiça e desprezavam os outros”.
Dois elementos básicos para iluminar o coração: egoísmo e o desprezo. O caminho discipular proposto por Jesus não é uma ideologia, mas confronto diário com a consciência e com as atitudes, por isso, o seguimento é formado pela renúncia de si mesmo.
A tendência humana, na medida em que vai crescendo na vida, com as conquistas pessoais, familiares, comunitárias, do trabalho, é considerar-se “melhor que o outro”, e isso não é diferente no âmbito espiritual, quando o crescimento espiritual se deixa guiar pela tentação. Adquirir uma “condição espiritual”, exige esvaziamento de si e uma disciplina, como aquele que busca seu aperfeiçoamento físico numa academia. Saber ou ter condições de “rezar mais que o outro”, não nos torna livres das quedas, por isso, a edificação espiritual é acompanhada da humildade e não do esbanjar a performance. Observemos, como a oração nos torna humildes e praticantes do bem.
Por fim, Paulo ao escrever a Timóteo, ensina-nos a perceber o valor de todo caminho que ele mesmo fez de conversão a partir do encontro com o ressuscitado no caminho de Damasco e o quanto sua vida tornou-se um dom total para a causa do evangelho e a edificação do Reino de Deus. O desenvolvimento e o amadurecimento do “ser cristão”, vai dando a nós aquilo que Paulo experimentou: ser um dom para o outro na liberdade do espírito e da missão. A vida não é simplesmente um tempo cronológico, é um lugar missionário e de conduzir tantos à Deus. Paulo ensina-nos ainda que o louvor, faz parte do coração daquele que não perde a vida pela causa de Jesus Cristo.
Caminhemos ao longo desta semana na observância da dinâmica de nossa oração, ou seja, como rezamos, o que rezamos, de quem nos lembramos, a quem nos dirigimos, mas acima de tudo, quanto tudo isso nos torna justos, humildes e cada vez mais atentos aos sofrimentos do outro.